segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Aniversário do Birras

Olá queridas amigas e amigos, visitas deste espaço, colegas de blog, que me têm acompanhado por aqui ao longo de alguns anos já.
Pois reparei agora, que faz hoje sete anos que coloquei o primeiro post neste meu Birras. Como o tempo passa rápido na sua cavalgada silenciosa...
Distraída como ando, não preparei a festa do aniversário - nem bolo nem champanhe. Vai ser tudo virtual, "embarco na modernice..."

Mas para toda a familia blogueira vai o meu abraço de agradecimento, pela simpatia que me dedicaram relativamente ao que rabisco, e aqui tenho colocado ao longo dos sete anos passados.

E hoje não escrevo nada, com o tempo tão cinzento falta-me a inspiração... Mas vou colocar uma linda poesia - e garanto que vale muito mais que a minha humilde prosa.


EXEMPLO DE PEDRINHO

(a bicicleta verde)

Tudo começou naquele dia
em que Pedrinho a conheceu:
era toda verde,
os raios brilhantes,
o farol enorme.
- a mais bonita bicicleta da loja.

- "Seu moço, quanto custa?"

O negociante estendeu o lábio com desprezo:
- "Tres mil cruzeiros."

Tres mil cruzeiros?!
Pedrinho coça a cabeça desanimado,
mete a mão no bolso
e tira, envergonhado,
uma amassada notinha de dois cruzeiros.
Sai da loja,
sobe o morro
e entra no barraco
onde o tio dorme o seu sono de ébrio.
Apanha uma lata vazia
e guarda a velha nota.
Era o início da luta:
engraxa os sapatos,
carrega água,
guarda carros,
aluga os bracinhos magros
nas feiras de sábado...
Quanto tempo!
Quanto sacrifício!
Quanto ponta-pé do tio embriagado,
até ao dia em que Pedrinho pode contar:
- 50, 100, 500, 1000, 2000, 3000 cruzeiros...
Faz um pacote e desce o morro
para o grande encontro.

Na casa da esquina Pedrinho pára.
Havia tanta gente...
Entra.
Um homem de preto falando:
"Irmãos, grande desgraça na China:
doença, frio, falta de pão.
Crianças morrem de fome,
velhos perecem sob a neve..."

Mostra fotografias:
crianças amarelinhas,
de mãos estendidas,
os olhos amendoados no rostinho sujo.

Passam uma bandeja pelo auditório
e começam a cair as moedas.
Pedrinho não entende porque dão dinheiro.
As crianças da China querem pão.
Ele não sabe onde é a China,
nem o que é morrer sob a neve,
mas sentir fome ele o sabe bem.

O menino não resiste.
Deixa o auditório, corre à padaria
e começa a comprar muitos,
muitos pães cobertos de açúcar.
O preço do seu tesouro,
toda sua economia de longos meses...

Volta curvado sob os pacotes enormes.
O homem de preto interrompe o apelo
e Pedrinho explica:
- "Moço, é para as crianças da China."

A multidão está boquiaberta.
Teria roubado?
Interrogam-no.
E a criança, fazendo força para não chorar,
piscando para esconder a lágrima teimosa,
balbucia:
- "É o dinheiro da bi-ci-cle-ta verde..."

Um murmúrio cresce no auditório
de admiração e vergonha
diante do sacrifício da criança.
Os pães são vendidos por milhares de cruzeiros,
maravilhosamente multiplicados
como os cinco pães do menino galileu...

As crianças da China teriam pão
porque um menino pobre do morro
dera tudo quanto possuía,
seu sonho,
sua bicicleta verde,
seu primeiro amor...

Talvez pareça um exagero de poeta
numa tremenda força de expressão.
Mas se sentirmos em toda intensidade
o peso de toda a humanidade
que geme sem Cristo, o verdadeiro pão.

Se contemplarmos milhões de mãos crispadas,
de almas revoltadas que suplicam amor,
milhões de famintos, pobres que morrem de frio
num mundo vazio - rebanho sem pastor.

Se olharmos através do IDE de Jesus
o campo enorme que é o mundo sem Deus;
se sentirmos também de igual maneira,
tudo entregaremos à Obra verdadeira
de semear na terra para colher nos céus.

Eu sou, tu és, nós somos responsáveis
pelos que perecem sem amor, sem luz.
Que Deus nos arranque do vil comodismo,
nos faça mártires, se assim for preciso,
mas que o mundo se dobre ao nome de Jesus.


 Myrtes Mattias
(Poetisa Brasileira)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A Oferta do Poeta

Descalço venho dos confins da infância
E a minha infância ainda não morreu
De traz de mim em face inda distante
Menino Deus Jesus da minha infância
Tudo o que tenho e nada tenho é Teu.

Venho da estranha noite dos Poetas
Noite em que o mundo nunca me entendeu
E trago a noite vazia dos Poetas
Menino Deus Amigo dos Poetas
Tudo o que tenho e nada tenho é Teu

Feriu-me um dardo ensanguentando as ruas
Onde o demónio em vão me apareceu
Porque as estrelas todas eram Tuas
Menino irmão dos que andam pelas ruas
Tudo o que tenho e nada tenho é Teu

Quem Te ignorar, ignora os que são tristes
Óh meu Irmão Jesus triste como eu
Óh meu Irmão Menino de olhos tristes
Nada mais tenho além de uns olhos tristes
Mas o que tenho e nada tenho é teu

     ( Pedro Homem de Melo)

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O Poeta das Árvores


PELA PÁTRIA - por António Correia de Oliveira


Primavera, pintura de Claude Monet

Ouve, meu Filho: cheio de carinho,
Ama as Árvores, ama. E, se puderes,
(E poderás: tu podes quanto queres!)
Vai-as plantando à beira do caminho.

Hoje uma, outra amanhã, devagarinho.
Serão em fruto e em flor, quando cresceres.
Façam os outros como tu fizeres:
Aves de Abril que vão compondo o ninho.

Torne fecunda e bela cada qual,
a terra em que nascer: e Portugal
Será fecundo e belo, e o mundo inteiro.

Fortes e unidos, trabalhai assim...
- A Pátria não é mais do que um jardim
Onde nós todos temos um canteiro.

O Manuel, meu colega blogueiro, a propósito das árvores, lembrou-me um Poeta português que amava a Pátria, a Natureza e as árvores. Eu recordo-me de o "ter conhecido" na escola, na instrução primária de então, e até parte deste soneto, que figurava no Livro de Leitura. Hoje fui procurar, e além do Poeta encontrei o Pintor - e, trouxe os dois.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Poesia antiga, sempre actual

A minha amiga Viviana sabe que eu gosto muito de poesia, e que também tenho um certo carinho pelas árvores. Gosto de todas; das altas e fortes, ou das esguias como são os choupos, das mais maneirinhas de copa redonda, e até dos arbustos. Nelas predomina o verde, a côr da esperança, mas numa gama variada de tons entre si. Sempre que é possível guardo-as em fotografia, chamo-lhes monumentos com vida. Então esta senhora, que sabe das minhas preferências, mandou-me estas rimas que achei muito bonitas, e por isso as vou colocar aqui.

Árvores

Parece-me que nunca ninguém há-de
Ver poema tão belo como a árvore.

Árvore que sua boca não desferra.
Do seio doce e liberal da terra.

Árvore, sempre de Deus a ver imagem
E erguendo em reza os braços de folhagem.

Árvore que pode usar, como capelo,
Ninhos de papo-ruivo no cabelo;

Em cujo peito a neve esteve assente;
Que vive com a chuva intimamente.

Os tontos, como eu, fazem poesia;
Uma árvore, só Deus é que a faria.

(J. Kilmer
Poeta americano
1886-1918)