segunda-feira, 26 de setembro de 2011

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um passeio a Belém


( A rota do passeio!)
Eu tinha 22 anos quando fui a Lisboa pela primeira vez. No Barreiro que se situa do outro lado do Tejo, e que na altura era vila próspera, com as muitas fábricas ali sediadas, a C.U.F como era designada, empregava grande parte da população residente, e nesse número estavam familiares meus, mais própriamente a minha meia irmã e os filhos. Ela tinha a idade da minha mãe, e o filho mais novo (meu sobrinho) ainda era mais velho do que eu. Ele casou-se e veio com a esposa visitar Coimbra e Figueira da Foz, e estacionou em nossa casa em Montemor. Quando regressou ao Barreiro, ficou assente que iriamos lá passar uns dias. Ele residia com os sogros, mas isso não era obstáculo, porque eles até já estavam a contar. E assim na data combinada eu e a minha mãe, lá fomos no combóio até Lisboa. Ele e a esposa esperaram-nos na estação de Sta. Apolónia, saímos apanhámos um táxi para o cais e aí entrámos no barco. Após 45 minutos de viagem na travessia do Tejo chegámos ao Barreiro. Daí a pouco estavamos na fase dos cumprimentos, e depois ao jantar a fase de encantamentos, com os projectos de passeios para os dias seguintes.

E assim no Domingo logo de manhãsinha, saiu toda a família de casa, fomos a pé até ao cais e de barco para Lisboa. O Sr. Correia que era o sogro do meu sobrinho e também o mais velho do grupo, tomou conta das operações, e nem genro nem ninguém o contrariou, até porque o senhor era o que se chama um companheirão. Pois, mas para além disso, ele não conhecia Lisboa, mas pensava que sim, como vivia relativamente perto.

Eu queria ir a Belém visitar o Mosteiro dos Jerónimos, o Museu dos Coches, o Monumento aos Descobrimentos, enfim eu tinha as minhas ideias e desejos, e ele colaborou, só que de forma péssima. Chegados a Lisboa saímos do barco e demos meia dúzia de passos pela beira do rio. Então ele alvitrou que fôssemos a pé por ali abaixo para vermos tudo bem. E sem sabermos a distância que nos esperava, lá "embarcámos" todos naquela penitência dolorosa,que o foi de verdade. Quando finalmente eu entrei no Museu dos Coches só desejava poder sentar-me nas Cadeirinhas dos Infantes que ali estavam expostas. Eu já não controlava o movimento dos joelhos, só sentia a perna a baloiçar quando mudava o pé, tinha a noção de que dentro em pouco não poderia continuar a andar. Não me queixava para não preocupar a minha mãe, mas estava muito aflita. Entretanto o tempo tinha passado e já eram horas de almoçar. No restaurante num plano superior onde ficámos só nós, eu olhava o chão de madeira lavada e pensava, "depois do almoço eu deito-me aqui"! Mas não foi necessário, a comida fez efeito e eu reagi. Como consolação fiquei com a boa recordação do prato saboroso de lulas guizadas e arroz branco. Retemperadas as forças, e apesar da enorme distância percorrida a pé,que deixou marcas, retomámos o passeio,demorámo-nos no Mosteiro dos Jerónimos, e voltámos a apanhar o barco para Almada para visitar o Cristo Rei, santuário inaugurado havia pouco tempo. Ali por perto ainda estavam grandes pedras espalhadas no solo, restos da construção, que para mim foram confortáveis maples por alguns minutos. A tarde estava no fim, embarcámos num Cacilheiro para Lisboa e fomos jantar. Jantar? Mas jantar como? Eu não jantei nada, e não fui só eu. Eram horas de voltar ao Barreiro. Deixámos o restaurante e caminhámos até ao cais, seriam mais 45 minutos de barco, e depois de autocarro mais uns minutos e estariamos em casa. Sentada no barco eu repetia para mim," já falta pouco!!!" Porém a odisseia não tinha terminado, esperava-nos ainda mais um resto. Os passageiros do barco que eram bastantes, aguardavam como nós o autocarro que já estava atrasado e ainda ia demorar, segundo informação de alguém no local. Contas feitas, chegou-se à conclusão de que era melhor não esperar, valia mais ir a pé, e fomos! O Sr. Correia e a esposa não quiseram e ficaram à espera.Tinhamos andado talvez uns quinhentos metros, passa por nós o autocarro, e dentro, eles a acenar-nos...!Choveram os lamentos entre nós, mas não havia escolha, havia que caminhar.
E lá seguimos penosamente, na noite escura, enquanto a mulher do meu sobrinho um tanto mimada, não parava de chorar d'alto, agarrada ao braço do marido,que sem paciência a repreendia sem parar.
Passado um ano voltei,e então sem sofrimento, visitei vários locais bonitos da nossa Capital, esta foto feita no Castelo de Lisboa, recorda um desses dias. E no ano seguinte de novo nos Jerónimos, na fonte frente ao Mosteiro.
Um ano depois casámos e passámos a residir na área de Lisboa. Iamos muitas vezes até Belém passear, e ao futebol no Estádio do Restelo, mas de eléctrico, e eu sempre recordava aquela primeira ida a Belém e os quilómetros que percorri a pé. Hoje de novo recordei com sorrisos e... saudades.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Recordando Monsenhor Nunes Pereira

 A Voz dos Castelos


Á meia noite,quando dorme a terra,
os castelos, de monte em monte olhando,
lembram histórias doutras eras, quando
serviam de defesa em dura guerra.

E cada qual a bôca então descerra,
e parece-me ouvi-los conversando.
cada palavra ou frase o vento brando
leva de vale em vale, de serra em serra.

Alerta' diz o vento de Leiria,
e estende-se do norte ao meio dia,
fazendo ouvir o eco em Montemor.

Alerta' e vão à Igreja escura e fria
pedir à Virgem Mãe Santa Maria
que faça breve um Portugal Maior.

(Monsenhor Augusto Nunes Pereira)

Acho esta poesia interessante, pois refere-se aos castelos de Leiria e de Montemor, e à Igreja de Santa Maria de Alcáçova situada dentro do castelo. Um templo de estilo gótico edificado em 1090, e restaurado no século xv. Considerado de há muito Monumento Nacional, é uma jóia que a vila preserva e de que até se orgulha.

(Monsenhor Augusto Nunes Pereira, foi pároco em Montemor à muitos anos.)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Castelo de brincar feito de cartão

A minha filha - que gosta de fazer toda a espécie de colagens - fez este castelo com cartão de caixote, cola e tinta, e mais umas anilhas de latas de feijão, uns cordéis e palitos. Foi para oferecer ao meu neto, que gostou muito. Ela antes fez uma pesquisa para se inspirar e mostrou-me um site cheio de castelos das mais variadas formas. Achei interessante partilhar. O link para lá ir ver é o seguinte:
http://www.topcastles.com/topkastelen.php?Language=en

É só clicar em cada uma dos quadrados e aparecem fotos grandes e informação. Está em inglês e não percebo. Mas as fotos são muito interessantes, vale a pena ver tantos castelos diferentes para ver o engenho desses arquitectos antigos!

domingo, 11 de setembro de 2011

Sorrisos

Eu não consigo entender por mais que pense, a razão porque grande parte do nosso povo vê os políticos como seres altamente superiores. Não sei se são reminiscências do passado, no tempo do decrépito Estado Novo. Nessa altura os chefes de Estado e do Governo eram intocáveis, aureolados como se de Santos se tratásse, muito perto do exagero. Actualmente as coisas não mudaram muito, daí eu falar em reminiscências, que parece ainda povoarem a imaginação de muitos portugueses. E porquê? No passado mês de Agosto, altura em que muitas pessoas procuram as nossas praias, ao encontro do sol e do merecido descanço, também o nosso Presidente da Républica fez igual. Numa das praias do Algarve assentou arraiais. Então todas as manhãs chegava ao areal com a familia, inclusivé os netinhos. Nada de mais natural, o Sr. antes de ser Presidente é esposo e avô,adora os netos, gosta do mar, do sol, da praia.
Ora eu li num jornal diário que as pessoas ali a banhos,todos os dias ansiavam pelachegada do Sr.,à espera dum sorriso,que ele pródigamente distribuia. Posteriormente enalteciam a simpatia do Presidente, e aqui é que eu acho que as pessoas estão presas ao passado. Então é algum facto relevante ser simpático? Então não é hábito na praia saudar os vizinhos do chapéu do lado? Não conhecemos, mas ficâmos a conhecer por uns dias. Quanto a mim, todos nós portugueses, temos o dever de respeitar os Homens que estão à frente dos destinos do nosso País. Cultivo o respeito, mas regeito a subserviência. Entendo-a como fraqueza, ou ausência de valor próprio.

Entretanto, encontrei estes versos. ( gosto de poesia)

O Senhor Morgado

O senhor morgado
Vai no seu murzelo,
Todo empertigado,
É um gosto vê-lo,
Próspero, anafado,
Véstia alentejana,
Calça de riscado:
Homem duma cana!
Vai, todo se ufana
De ir tão bem montado
E ela na janela...
Seja Deus louvado!

O senhor morgado
Vai nas próprias pernas,
Todo bandeado;
Tem palavras ternas
Para cada lado.
Quando passa,sente
Que é temido e amado;
Fala a toda a gente,
Topa um influente:
«Sou um seu criado...»
Eleições à porta,
Seja Deus louvado!

O senhor morgado
Vai na sege rica
Todo repimpado:
Ai que bem lhe fica
O chapéu armado,
E a comenda ao peito
E o espadim ao lado!
Que homem tão perfeito!
Deputado eleito,
Muito bem votado,
Vai para o Te Deum,
Seja Deus louvado!

(Conde de Monsaraz)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Aniversário

Ontem foi o dia dos meus anos. Confesso que actualmente não ligo muito a esta data nem sinto vantagem para mim de a festejar, embora não rejeite um jantar simples com a familia reunida à mesma mesa.Objectos como prendas também não, mas doces, chocolates e livros, sou gulosa por todos e são bem vindos. Marido, filhas e netinho não se esquecem.
Com o passar do tempo muito se alterou, passei a festejar o aniversário do marido, depois o das filhas, e descurei o meu. Não o rejeitei, apenas lhe reduzi a importância com naturalidade, e quase sem dar por isso.
Guardo na memória a festa que era para mim fazer anos, quando era menina e depois na juventude. Era tudo tão pouco, tão modesto, e no entanto era enorme no meu conceito. Resumia-se ao jantar que nessa noite era na sala. E a comida era sempre igual ano após ano, canja, arroz escuro dos miudos do frango, e o dito cujo com batatinhas à volta, assado no forno. Como sobremesa arroz-doce. Prendas? Não me recordo. Apenas uns postais ilustrados enviados por algumas amigas. Mais tarde algumas prendas então,mas já com vista ao enxoval, jámais de carácter superfluo. Gosto de recordar, faz-me sorrir.
Foi há muitos anos, neste dia 5 de setembro. Fui a Coimbra, e viajei no autocarro da carreira. No regresso vinha "o meu autocarro" e mais outro igual que era o do desdobramento, este por acaso vinha à nossa frente. Numa curva travou bruscamente para evitar bater numa camioneta que lhe surgiu de frente,e como a estrada estava molhada,atravessou-se na via. O outro também parou e não ouve consequências,porém quando o motorista se dirijiu ao da camionete este começou a barafustar,e pregou-lhe uma bofetada. Os óculos voaram e claro partiram-se. Quando segundos depois ali chegámos não havia espaço para passármos. Com aquela atitude maluca, tornou-se necessário chamar a polícia, e sem telefone a demora era evidente. Ficámos ali retidos no meio dos campos. Então a alternativa era entrar numa azinhaga passar por uns pequenos povoados, para voltar à estrada um pouco mais adiante. E lá seguimos por caminhos tortuosos e estreitos de terra esbranquiçada, aos solavancos sobre o piso irregular. As pessoas surgiam ás portas admiradas porque ali não passavam carros. Iamos muito devagar pois a espaços curtos aparecia uma pedra enorme. Então o colega do motorista descia e ia tirar a pedra. Daí a pouco,de novo -" ó Fernando lá está outra, vai tirar". Nós riamo-nos, e parodiávamos o facto, chamavamos-lhe excurssão sem aumento no preço do bilhete.E mais pedras se sucederam e o Fernando sempre as foi retirar, até finalmente voltarmos à estrada normal.Apesar da boa disposição estavamos saturadas,todas cheias de pó, mesmo fechando as janelas,não foi possivel evitar, mas já nada nos preocupava, só chegar a casa depressa, pois passámos horas nesta aventura.
Em Montemor a noticia tinha corrido mas da pior forma, dizia-se que a camionete da carreira tinha sofrido um acidente, falava-se num choque ; eu tinha por hábito e gosto, ocupar o lugar da frente, por isso em minha casa foi o caos.Quando a camionete entrou na minha rua onde passava e não parava, eu vi logo um aglomerado considerável de pessoas à minha porta. Preocupadas esperavam, e acompanhavam a minha mãe que em lágrimas só pensava o pior.
Finalmente cheguei a casa, sã e salva! Pois, não nos tinha acontecido nada,mas neste dia de aniversário, o jantar que já tinha arrefecido,não soube como de costume.

sábado, 3 de setembro de 2011

O Ouro e a Peste

Duma forma geral, porque poucas serão as exceções, todos os castelos guardam as suas lendas, algumas muito interessantes, outras nem tanto, e o castelo de Montemor-o-Velho também as tem.
Recordo uma, a das arcas. A torre de menagem tem na base um reforço em cantaria algo aparelhada, um espaço saliente de grande dimensão. Diz a lenda que ali no seu interior estariam duas arcas enormes e numa delas estava um tesouro, e na outra, a peste. O povo acreditava, e todos queriam ir buscar aquela riqueza, o ouro, mas adivinhar qual a arca que o guardava? O medo da peste travava os impetos. No entanto, até à poucos anos ainda eram visiveis uns buracos, devido à falta de pedras que dali foram arrancadas por algum afoito que se aventurou,mas que não logrou atingir o interior.

O Conde de Monsaráz, passando por Montemor tomou conhecimento desta história, e decidiu contá-la em versos. É com muito gosto que a transcrevo.

A Lenda das Arcas

Entre escombros na rudeza
da vetusta fortaleza,
batidas do vento agreste,
empedernidas,cerradas,
há duas arcas pejadas
uma d'oiro,outra de peste.

Ninguém sabe ao certo qual
das duas arcas encerra
o fecundo manancial,
que fartará d'oiro a terra
mesquinha de Portugal,
ou qual,se mão imprudente
lhe erguer a tampa funérea,
vomitará de repente
a fome, a febre, a miséria,
que matarão toda a gente !

E nestas perplexidades
e eternas hesitações,
têm decorrido as idades,
têm passado as gerações;
nas guerras devastadoras,
nas lutas brutais e ardentes
entre as raças invasoras
e as povoações resistentes.

Nunca romanos nem godos,
nem árabes,nem cristãos,
duros na alma, e nos modos,
rudes no aspecto e no trato,
chegaram ao desacato
de lhe tocar com as mãos.

Sempre que o povo faminto,
maltrapilho ou miserando,
fosse ele cristão ou moiro
entrou no tôsco recinto
para salvar-se, arrombando
a arca pejada de oiro,

Quedou-se, os braços erguidos,
a olhar atónito e errante,
sem atinar de que lado
vinha morrer-lhe aos ouvidos
uma voz agonizante,
entre ameaças e gemidos:
- Ó povo de Montemor,
se estás mal, se és desgraçado
suspende, toma cuidado,
que podes ficar pior!

E nestas perplexidades,
e eternas hesitações,
hão-de passar as idades,
suceder-se as gerações,
e continuar na rudeza
da vetusta fortaleza,
batidas de vento agreste,
empedernidas,cerradas,
as duas arcas pejadas,
uma d'oiro outra de peste.


(Conde de Monsaraz)

    ( em 1902)